Problemas, dificuldades, dúvidas, sobrecarga, incertezas… Costumo dizer aos meus pacientes que às vezes o melhor que podemos fazer é admitir o caos. Quando paramos de nos debater, quando paramos de resistir e simplesmente admitimos que naquele momento nossa vida está uma verdadeira bagunça, sentimo-nos aliviados. Funciona! Tente qualquer dia desses. Admitir o caos é diferente de se conformar ou se acostumar com ele e isso precisa estar claro, é verdade. Contudo, admitir o caos pode ser a primeira coisa realmente efetiva que estaremos fazendo para sair dele. Ao admitir o caos estamos dando um nome ao que está acontecendo e, como nos ensina a psicanálise, tudo o que recebe nome tende a ser melhor elaborado. É como se já não estivéssemos mais lutando no escuro, contra algo do qual desconhecemos a face e o poder. O que está acontecendo passa a ter um nome, uma definição e, assim, fica menos assustador também.
As coisas não mudam enquanto você não perceber que alguma mudança precisa acontecer e, então, a partir dessa constatação, agir para isso. Assim também acontece quando a vida fica caótica. Pouca adianta seguirmos apenas reagindo ao que está acontecendo, tentando somente sobreviver dia após dia. Muito mais eficiente é poder parar, constatar que a desordem está aí e, assim, sabendo que ela existe, analisar o que pode ser feito para que a situação mude.
Identificar os problemas e, principalmente, filtrar os problemas – o que é de fato meu e o que é do outro – tende a ser muito útil. É assim que vamos percebendo que aquilo que num primeiro olhar era apenas uma grande e única coisa, um grande e completo caos, é na verdade constituída de várias situações/problemas menores, alguns que nem são nossos e, portanto, não temos o poder de resolver. Deixemos para quem pode. É aí que a vida vai se simplificando. Problemas pequenos são mais fáceis de serem resolvidos, um de cada vez. Um problema de cada vez é também muito melhor do que tudo junto o tempo todo. O “caos” fica menor, conseguimos enxergar com mais clareza e encontrar soluções passa então a nos parecer mais fácil e possível.
Calma, paciência, tolerância e resiliência me parecem características necessárias e importantes neste processo de dissipar o caos, arrumar a vida e desatar os nós do existir. Contudo, não é exatamente a calma a primeira que se vai em meio às turbulências? Não disse que seria fácil, eu mesma ainda sigo tentando. Às vezes consigo, outras não, e tudo bem, é assim mesmo. Mas temos que nos propor a tentar, isso é certo. Manter a calma, ser paciente, tolerante e resiliente diante das dificuldades é um exercício constante, que não se aprende do dia para a noite e nem se aprende sem falhar antes. Mas não é por isso que não vamos tentar, não é mesmo? Com um pouco de esforço e persistência a gente chega lá. Ou pelo menos, bem perto…