Ano de pandemia, ano de andar com o coração apertado, de andar, apesar do coração apertado.
Que ano, minha gente, que ano! Alguém mais aí tentando encontrar algum sentido em tudo o que aconteceu? Certo, esse “tudo o que aconteceu” é variável em intensidade e efeitos. O meu “tudo o que aconteceu” é diferente do seu, mas tenho observado que alguns sentimentos e emoções permearam a vida de todos nós. Quem não sentiu medo lá atrás, em março, quando a pandemia “estourou”? Quem ainda não sente? Quem não se angustiou diante das restrições, ausências e incertezas quanto ao que era conhecido e seguro e, de repente, deixou de ser? Quem não se debateu – e ainda se debate – sobre o quanto arriscar, o quanto se cuidar e como conciliar medidas de proteção com outras necessidades do viver: conviver, abraçar, estar junto, sentar perto? Em meio a essas questões todas, a vida, teimosa (ufa), seguia e segue. Contas, trabalho, filhos, aulas, reuniões… Esse parece ter sido o ano de provarmos a nós mesmos que sempre podemos ir além, mesmo quando pensamos não poder mais.
Esse também foi o ano de olhar o medo e a morte, de sentir o medo e a morte e ver suas marcas no olhar e na vida de tantos que adoeceram ou perderam seus amores para a Covid-19. Ano de muitos lutos: pelas vidas que se foram, pelo emprego que se perdeu, pela rotina que se modificou, pelo convívio social e familiar que deixamos de ter… Perdas e lutos e cansaços e saudades. Ano de andar com o coração apertado, de andar, apesar do coração apertado.
Ora incrédulos, mas quase sempre valentes, seguimos. Com a esperança pulsando – mesmo que às vezes bem apagadinha – lá no fundinho do coração da gente. E, quando pensamos que o pior já havia passado, cá estamos, em meio a uma “segunda onda”. Sim, tem mais. Recarregue sua paciência e coragem.
Respire fundo e faça comigo esse exercício: olhe para você, olhe para o seu ano, para seus dias de quarentena… Olhe para todos os dias que lhe pareceram intransponíveis e repare que mesmo a estes você sobreviveu. Se dê esse crédito. E já que os abraços estão em falta, que tal dar um abraço em si mesmo? Que tal até um “parabéns, você conseguiu”?
Estou aprendendo que não posso mudar os fatos, mas posso escolher como vou olhar para eles. Posso escolher terminar meu ano lamentando tudo o que eu não pude fazer ou viver, ou posso escolher terminar meu ano agradecendo por tudo o que pude viver e fazer, apesar do caos lá fora. Posso escolher olhar para tudo o que perdi ou posso escolher agradecer por tudo e todos que ficaram. Posso escolher correr riscos ou posso escolher cuidar de mim e de todos que eu amo. Podemos escolher! Podemos, inclusive, escolher pedir ajuda se acharmos que sozinhos não damos conta. E tudo bem não dar conta. E tudo bem pedir ajuda. E quer saber? Esse ano que não me venham com “Então é natal e o que você fez”… Esse ano sobrevivemos e já está de bom tamanho. Se dê um abraço e parabéns por isso, você merece.

Esse ano o meu brinde será ao meu “tudo o que aconteceu”. Esse ano escolho brindar às dificuldades, porque elas me fizeram mais forte e me ensinaram que posso suportar e sobreviver até aos meus piores dias. Esse ano o meu brinde será a mim, que encontrei alternativas, estratégias e recursos diante de cada desafio que se apresentou. O meu brinde será à vida que segue, aos meus amores que permanecem. Um brinde ao privilégio de ter um amanhã, um novo dia, um novo ano, cheinho de novas possibilidades e que só dependerão das minhas escolhas. Um brinde a nós e à nossa bendita capacidade de recomeçar. E você, ao que vai escolher brindar?